Em pouco mais de sete
anos 67,951 organizações religiosas ou instalações filosóficas foram fundadas
em nossa pátria. A expansão das crenças religiosas tornou-se um dos fenômenos
mais importantes do Brasil nos últimos anos. No total, desde janeiro de 2010,
67,951 entidades classificadas como "organização religiosa ou
filosófica" ao organismo competente, uma média de 25 por dia foram
registrados. De acordo com o jornal O Globo, a enorme expansão pode ser
explicada por várias razões, incluindo a relativa facilidade burocrática do
procedimento, o crescimento da fé pentecostal e até mesmo a crise econômica que
afeta o país e que leva as pessoas a procurar outro tais soluções para seus
problemas (2).
Em fins de 2016, o
Instituto Datafolha publicou uma pesquisa que fez ressoar uma campainha de
alarme na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O estudo mostra
que, nos últimos dois anos, 9 milhões de pessoas abandonaram o catolicismo no
país. Em 2014, a porcentagem da população que declarava ser católica era de
60%, ao passo que em dezembro de 2016 baixou para 50%. No mesmo período, os
fiéis pentecostais ou neopentecostais passaram de 18% a 22%. Embora a recente
baixa na porcentagem de católicos não foi acompanhada por uma ampla expansão
dos fiéis pentecostais ou neopentecostais, o que preocupa os bispos é outro
dado: a metade dos que declaram ser pentecostais ou neopentecostais provém da
Igreja Católica, onde haviam crescido.
Recentemente, a CNBB organizou um encontro
para discutir o crescimento das igrejas pentecostais e neopentecostais. As
conclusões identificam diversas causas: os evangélicos contam com uma estrutura
mais dinâmica e podem chegar às pessoas de uma forma mais rápida, em qualquer
lugar onde estejam; aproveitam a ingenuidade ou a má formação dos católicos –
sobretudo, os que vivem nas zonas rurais ou nas periferias das grandes cidades
– e levam adiante uma intensa propaganda contra o catolicismo; por último, os
evangélicos recorrem a uma forte carga emocional para atrair as pessoas (3).
A Perda Acelerada de Católicos no Brasil
O Instituto Datafolha tem
feito pesquisas sobre o perfil religioso da população brasileira. O que estas
pesquisas confirmam é aquilo que os censos demográficos mostram com bastante
clareza: o Brasil está passando por uma transição religiosa. Os católicos
perdem espaço e encolhem ao longo do tempo. Os evangélicos, em suas diferentes
denominações, são o grupo que mais cresce. Aumenta as demais denominações não
cristãs e o número de pessoas que se declaram sem religião. Isto quer dizer que
o Brasil está passando por uma mudança de hegemonia entre os dois grupos
cristãos (católicos e evangélicos), ao mesmo tempo em que aumenta a pluralidade
religiosa, pois cresce e diversifica a proporção das filiações não cristãs.
Nos 22 anos da série
Datafolha, os católicos perderam 25%, os evangélicos ganharam 15%, os sem
religião aumentaram 9% e as outras religiões tiveram um ligeiro aumento de 1%.
A perda dos católicos tem sido de 1,14% ao ano, enquanto os evangélicos crescem
0,68% ao ano. Fazendo uma projeção linear destas tendências até 2040,
percebe-se que, em 2028, os evangélicos (com 37,2%) vão ultrapassar os
católicos (com 36,4%). Em 2040, os católicos cairiam para 22,7% e os
evangélicos subiriam para 45,4%. Os cristãos (católicos + evangélicos) que eram
79% em 1994, caíram para 73,6% em 2016 e devem ficar em 68% em 2040, conforme
mostra o gráfico abaixo.
Crescimento
dos Desigrejados No Brasil
Crescimento ainda mais
espantoso apresentou o grupo de evangélicos que se declararam “sem vínculo
denominacional”, denominado de “desigrejados”. Nos dez anos separando os censos
de 2000 e 2010 o numero de evangélicos assim declarados partiu de pouco mais de
um milhão de pessoas chegando a impressionantes 9.218.129 de crentes
brasileiros. Um crescimento de mais de 780%. Nenhum outro grupo de evangélicos
arrolados no censo experimentou crescimento semelhante. O conjunto da população
evangélica cresceu 61,45% e a denominação com o maior crescimento foi a
Assembleia de Deus com 46,28% (com 8,4 milhões de fiéis em 2000 e 12,5 milhões
de fieis em 2010).
O grupo "evangélicos
sem vínculo denominacional” foi o maior responsável pelo crescimento da
população evangélica brasileira e representa hoje 21,8% do total dos
evangélicos, sendo um grupo maior, portanto, do que a soma de todos os crentes
vinculados a denominações evangélicas de missão (presbiterianos, metodistas,
batistas, luteranos, congregacionais, adventistas e outros), os quais, somam
pouco mais de 7,6 milhões de evangélicos (4).
É de grande relevância
ressaltar o crescimento do islamismo em nosso país. Cerca de 1,5 milhão (5).
Conclusão
Não há como conter o
vulcão do crescimento do pentecostalismo, das seitas, dos sem-religião, dos
desigrejados no Brasil. O esquema montado e executado com agressividade
proseletista, encurrala e promove decadências nas igrejas cristãs históricas. O
esquema é o seguinte: poder financeiro, conchavo político, mídia,
espetacularização do show religioso, culto à personalidade e manipulação pela
ganância de uma vida melhor via a teologia da prosperidade e a teologia da
retribuição de barganhar o céu pelos dízimos e ofertas. Fundamentados na
doutrinação e na dominação de milicianos de fiéis como mina de ouro, de votos e
de sustentação de poder econômico, político e religioso. É muito triste
contemplar pessoas de boa fé sustentar impérios religiosos corruptos!
Resta tão somente para os
seguidores de Jesus de Nazaré, viver de fato e de verdade seu ensinamento de
amor, ajudar os necessitados, praticar a justiça, acolher na comunidade com
espírito fraterno e com a vida anunciar a Boa Nova do Reino de Deus.
Frei
Inácio José do Vale
Professor
e Conferencista
Sociólogo
em Ciência da Religião
Doutor
em História do Cristianismo
Formador
dos Irmãozinhos da Fraternidade de Charles de Foucauld
E-mail:
pe.inacio.jose@gmail.com
Fontes:
(1) http://www.snpcultura.org/intriga_destroi_paroquias.html
(2) http://www.lavoz.com.ar/mundo/desde-2010-cada-hora-se-inscribe-una-nueva-iglesia-en-suelo-de-brasil
(5)http://istoe.com.br/349181_OS+CAMINHOS+DO+ISLA+NO+BRASIL/
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