Por Edson Luiz Sampel
O padre-reitor do Santuário
Nacional de Aparecida postou na Internet alguns esclarecimentos acerca da
homenagem que a escola de samba Unidos de Vila Maria prestará a Nossa Senhora
Aparecida no entrudo ou carnaval de 2017, quando se comemora o ano jubilar.
Primeiramente, confunde-se
“carnavalesco” com “folião”. Este brinca no carnaval; aquele organiza o
desfile. Demais, não vamos comemorar no ano que vem os 300 anos do achado da
imagem de Nossa Senhora Aparecida, conforme o vídeo. Em 2017, festejaremos, com
ingente gáudio, prenhes de autêntica piedade e com vivacidade, o achado de uma
imagem (estatueta) de Maria santíssima, a mãe de Jesus, ulteriormente
cognominada “Nossa Senhora Aparecida” (particípio passado do verbo “aparecer”),
exatamente porque essa imagem da mãe de Deus apareceu no Rio Paraíba em 1717.
Em nenhum momento do vídeo se
explana ou se recorda aos fiéis que Nossa Senhora Aparecida e Maria de Nazaré
são a mesmíssima pessoa. Sabe-se que muita gente simples e devota ainda pensa
que Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora da
Assunção, Nossa Senhora do Carmo etc. são pessoas diferentes; santas
diferentes. Diga-se de passagem, no santuário nacional, Maria virou
“mãe-Aparecida”. Raramente se ouve da boca dos pregadores o nome próprio da
deípara: Maria. Observe-se, também, que o samba-enredo disponível no portal A12
não faz nenhuma alusão ao fato de que Nossa Senhora Aparecida é a mãe de Jesus
Cristo. Por quê? E a assessoria teológico-pastoral dos redentoristas?
A página do portal A12
disponibiliza algumas fantasias masculinas. Não se mostra nenhum destaque feminino. Demais, como já
pude ressaltar alhures, o problema jaz na natureza da festividade do carnaval,
evento pagão e notoriamente sensual, ou seja, lugar inadequado para se prestar
honras a Maria santíssima, a mais pura de todas as criaturas de Deus:
castíssima e virgem antes, durante e depois de parir o salvador do mundo, nosso
Senhor Jesus Cristo.
Além disso, o problema não está
apenas em eventual vestimenta pudibunda das carnavalescas e dos carnavalescos
na passarela do samba, pois os que assistem ao desfile das arquibancadas não
comparecem ao sambódromo para um culto religioso e, destarte, não têm
compromisso de se trajar ou de se comportar com o máximo denodo tributado à
homenageada, Maria santíssima, a mãe de Jesus. Não se encontram em uma igreja!
Pelo que parece, a decisão
equivocada de autorizar a escola de samba a proceder à inaudita homenagem foi
tomada de cima para baixo, pelos três purpurados responsáveis pelo santuário
nacional: dom Raymundo, dom Odilo e dom Orani Tempesta. Pergunto:
consultaram-se os leigos, os mais interessados, os que correspondem a ao menos
95% dos membros da Igreja católica? Consultaram-se os romeiros de Aparecida,
tão carinhosos e amantíssimos da mãe de Deus, que diariamente afluem ao
santuário com preces e espórtulas? Mais: consultaram-se os conselhos
presbiterais das dioceses envolvidas? Não se deveria discutir este assunto no
conselho permanente da CNBB, antes de emitir a autorização?
Por fim, gostaria de dizer ao
ilustre padre-reitor do Santuário Nacional que os milhares de católicos,
devotíssimos de nossa Senhora, ciosos da hiperdulia, que no momento, nas redes
sociais, estão reclamando dessa homenagem sui generis, não são pessoas “mal-intencionadas”,
como sugere o insigne presbítero no vídeo ora analisado. Trata-se de fiéis que
exercem seu lídimo direito de confutar o que presumem ser gesto equivocado da
hierarquia, direito que lhes assiste tanto na ordem civil (artigo 5.º, IV, da constituição
federal) quanto na eclesiástica (cânon 212 do C.I.C.). Aliás, a repulsa a essa
homenagem, no mínimo novidadeira, se estriba na enérgica providência tomada
pelo antecessor de dom Orani, sua ema., dom Eugênio Salles, de saudosa memória,
que não titubeou em entrar na justiça, com êxito, para coibir uma homenagem bem
similar que queriam realizar num dos carnavais cariocas com a réplica da
estátua do Cristo Redentor.
Por último, consigno, outrossim,
que não tenho dúvida nenhuma das melhores intenções e da boa vontade da
diretoria e dos responsáveis pela escola de samba Unidos de Vila Maria. No
entanto, repito, cuido que o carnaval não é o ambiente idôneo para a religião.
Não se deve misturar religião com os entretenimentos assaz soltos e fogosos que
caracterizam as festividades do rei Momo.
O problema desta inédita
homenagem momesca a Maria santíssima se sintetiza no risco iminente de tisnar a
honra outorgada à mãe de Deus, escandalizando-se católicos e acatólicos.
Edson Luiz Sampel
Doutor em Direito Canônico pela
Pontifícia Universidade Lateranense, do Vaticano.
Membro da Sociedade Brasileira de
Canonistas (SBC) e do conselho diretor da Academia Marial de Aparecida (AMA).
Fonte: Fraters In Unum
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