quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

A Arquidiocese de Belo Horizonte adota a ideologia de gênero em suas diretrizes pastorais

A Arquidiocese de Belo Horizonte recorreu, em suas diretrizes pastorais para os próximos cinco anos, à tese da ideologia de gênero ao abordar seus compromissos de atenção à família.
O livreto “Projeto de Evangelização Proclamar a Palavra” relativiza a compreensão da instituição familiar, abrindo-a à configurações diferentes da configuração natural, e sugere que as pessoas possam ter “identidades sexuais” que não correspondam com aquelas às quais nasceram.

O texto, de 31 páginas, apresenta dez prioridades pastorais e especifica as diretrizes que serão desenvolvidas pelas diversas instâncias eclesiais da arquidiocese. Quatro parágrafos abordam o compromisso pastoral com a família e neles estão presentes afirmações que adotam a perspectiva da chamada ideologia de gênero.
Um dos parágrafos explica que O Matrimônio, no qual mulher e homem procuram, segundo a graça de Deus, corresponder ao mais profundo de sua vocação, tem valor para a Igreja e para a sociedade, e não restringe a compreensão da existência de outras configurações familiares, oriundas de situações sociais, culturais, econômicas e religiosas diversas”.
Em seguida afirma que “Compreende-se, então, que a família é a união das pessoas na consciência do amor, ‘cuja força […] reside essencialmente na sua capacidade de amar e ensinar a amar'”
Ao definir a família como simples união de pessoas no amor e omitir que esta surge da união conjugal de um homem e uma mulher o documento aponta para uma interpretação muito mais ampla da instituição familiar e a relativiza, no mesmo sentido que propõe Judith Butler.
A professora do departamento de retórica e literatura comparada da Universidade da Califórnia, em Berkeley, aponta em uma entrevista ao periódico argentino Página 12 que “deve-se distinguir família de parentesco […] estas instituições devem abrir-se a mundos mais amplos, não é necessário estarem unidos por sangue ou pelo matrimônio para que sejam essenciais uns para os outros”
Manipulação do ponto 53 de Amoris Laetitia
Na definição de família oferecida no documento da arquidiocese faz-se referência, como se fosse fundamento, ao número 53 da exortação apostólica Amoris Laetitia.
Entretanto, ao recorrer ao texto pode-se constatar que há uma evidente tegiversação das palavras do Pontífice. O número 53 afirma que “Avança, em muitos países, uma desconstrução jurídica da família, que tende a adoptar formas baseadas quase exclusivamente no paradigma da autonomia da vontade.”
Também indica a necessidade de não depreciar o verdadeiro sentido do matrimônio, pois “A força da família «reside essencialmente na sua capacidade de amar e ensinar a amar”. Portanto, as palavras citadas entre aspas nas diretrizes diocesanas estão claramente fora do contexto em que foram originalmente apresentadas.
Outro parágrafo aborda a necessidade de acolher todas as famílias “em suas mais diversas configurações, com respeito e zelo, a fim de que elas se sintam pertencentes, de fato, à comunidade”
Orienta-se que nesta perspectiva incluam-se os divorciados em uma nova união civil, os que não estão casados na Igreja e os divorciados oferecendo-lhes um “qualificado serviço de acolhimento”. Até aqui as orientações de acolhida estão em consonância com a atitude solicitada pelo Papa Francisco de acolher e acompanhar aqueles que estão feridos.
Porém, a última linha do parágrafo afirma “Atente-se para que, nesse mesmo horizonte, sejam acompanhadas as pessoas em suas diferentes identidades sexuais (gays, transexuais, lésbicas, travestis, transgêneros e bissexuais)”.
Esta frase adota de forma plena, sem utilizar o termo gênero, a perspectiva ideológica da “gender theory” ao utilizar o conceito de “identidade sexual” como passível de diversas variantes das entidades feminina e masculina.
Também não utiliza o termo “tendência sexual” ou “orientação sexual”, que possibilita entender que não devem ser excluídos de acompanhamento pastoral as pessoas que experimentam atração por pessoas do mesmo sexo.
Fala-se de “identidades sexuais” elencando, entre as possibilidades, o “transgênero. Como é sabido, isto se refere a pessoas que afirmam ter uma identidade que não corresponde ao sexo biológico. Exatamente um dos aspectos essenciais da ideologia de gênero, que até leva à reivindicação do reconhecimento de um “nome social”.
Apesar disso, na carta de apresentação do documento, o arcebispo de Belo Horizonte, Mons. Walmos Oliveira de Azevedo, afirma que o foco, eixo e ponto de partida para a evangelização em sua diocese é “proclamar a Palavra de Deus”.
Nas primeiras páginas do documento adverte que se assumiu um novo paradigma pastoral desenhado sobre os pilares da eclesiologia “resgatada” pelo Concílio Vaticano II:
“O Concílio elaborou a compreensão da Igreja como Povo de Deus, que dialoga com a sociedade […], distanciando-se do eclesiocentrismo medieval, do clericalismo e da romanização do catolicismo tridentino, assumindo, assim, uma eclesiologia de comunhão”
O “Projeto de Evangelização Proclamar a Palavra”, aprovado pelo Arcebispo de Belo Horizonte e que leva como data de publicação a 8 de Dezembro, pode ser lido na página da web da arquidiocese.
Os parágrafos destacados que abordam o compromisso com a família estão nas páginas 18 e 19.
De acordo com o arcebispado, o documento em questão é a síntese das contribuições oferecidas pelo clero aos fiéis em um amplo processo de consulta denominado 5a Assembléia do Povo de Deus.
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