segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Surge carta do Papa dando a impressão de apoiar a Comunhão para divorciados recasados


Por Steve Skojec, OnePeterFive, 9 de setembro de 2016 - O site católico de língua espanhola InfoCatólica – que está sediado na Espanha, mas que também cobre assuntos da América Latina – publicou um documento dos bispos argentinos em resposta a Amoris Laetitia. Eles também publicaram uma carta correspondente atribuída ao Papa Francisco, na qual ele elogia o trabalho deles, dizendo (de acordo com a tradução levemente corrigida com a qual estamos trabalhando) que “a carta é muito boa e expressa plenamente o sentido do Capítulo VIII de Amoris Laetitia. Não há outras interpretações”.

E, ainda , os nºs 5 e 6 do documento dos bispos faz uma afirmação sobre a possibilidade de confissão e comunhão para os divorciados novamente casados que não estão vivendo em continência,  que é muito mais concreta do que o que é encontrado na própria exortação apostólica. Confira as seções em negrito (ênfase minha) abaixo:
    1) Em primeiro lugar, recordamos que não convém falar em “permissão” para aceder aos sacramentos, mas sim um processo de discernimento acompanhado por um pastor. É um discernimento “pessoal e pastoral” (300).
    2) Neste caminho, o pastor deveria enfatizar o anúncio fundamental, o kerygma, que estimule ou renove o encontro pessoal com Jesus Cristo vivo (cf. 58).
    3) O acompanhamento pastoral é um exercício da “via caritatis”. É um convite a seguir “o caminho de Jesus, da misericórdia e de integração” (296). Este itinerário apela para a caridade pastoral do sacerdote que acolhe o penitente, ouve-o com atenção e mostra o rosto materno da Igreja, uma vez que aceita a sua boa intenção e seu bom propósito de colocar a vida inteira à luz do Evangelho e de praticar a caridade (cf. 306).
    4) Este caminho, não termina necessariamente nos sacramentos, mas pode orientar-se para outros modos de se integrar mais na vida da Igreja: uma maior presença na comunidade, a participação em grupos de oração ou reflexão, o compromisso em diversos serviços eclesiais , etc. (Cf. 299).
    5) Quando as circunstâncias específicas de um casal tornam isso possível, especialmente quando ambos são cristãos com uma jornada de fé, se pode propor o compromisso de viver em continência. Amoris Laetitia não ignora as dificuldades desta opção (ver nota 329) e deixa em aberto a possibilidade de acesso ao Sacramento da Reconciliação quando eles falharem nesse propósito (ver nota 364, de acordo com o ensinamento de João Paulo 11 ao Cardeal W . Baum, de 22/03/1996).
    6) Em outras circunstâncias mais complexas, e quando eles não puderem obter uma declaração de nulidade, a opção acima mencionada pode não ser viável de fato. No entanto, é também possível um caminho de discernimento. Se vier a reconhecer que, num caso particular, há limitações que diminuem a responsabilidade e culpa (cf. 301-302), particularmente quando uma pessoa considerar que cairia em uma falta subsequente prejudicial aos filhos da nova união, Amoris Laetitia abre a possibilidade de acesso aos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia (cf. notas 336 e 351). Estes, por sua vez, dispoem a pessoa a continuar a amadurecer e crescer com o poder da graça.

O texto completo [tradução de nossa valorosa Gercione Lima] do original em espanhol pode ser visto abaixo:
    Critérios de base para a aplicação do capítulo VIII da Amoris Laetitia
    Região Pastoral Buenos Aires

    Estimados sacerdotes:
    Recebemos com alegria a exortação Amoris Laetitia, que nos chama acima de tudo a fazer crescer o amor dos esposos e a motivar os jovens a optar pelo casamento e a família. Esses são os grandes temas que nunca deveriam ser esquecidos ou ofuscados por outras questões. Francisco abriu várias portas na pastoral familiar e nós somos chamados a aproveitar este tempo de misericórdia, para assumir como Igreja.
    Agora vamos nos deter somente no capítulo VIII, uma vez que se refere a “orientação do Bispo” (300), a fim de discernir sobre o possível acesso aos sacramentos por alguns “divorciados numa nova união”. Acreditamos ser conveniente, como bispos de uma mesma região pastoral, concordarmos em alguns critérios mínimos. Assim oferecemos, sem prejuízo para a autoridade que cada Bispo tem sobre sua própria diocese para esclarecê-los, complementá-los ou limitá-los.
    1) Em primeiro lugar recordamos que não convém falar em “permissão” para aceder aos sacramentos, mas sim um processo de discernimento acompanhado por um pastor. É um discernimento “pessoal e pastoral” (300).
    2) Neste caminho, o pastor deveria enfatizar o anúncio fundamental, o kerygma, que estimule ou renove o encontro pessoal com Jesus Cristo vivo (cf. 58).
    3) O acompanhamento pastoral é um exercício da ‘via caritatis “. É um convite a seguir “o caminho de Jesus , o da misericórdia e de integração” (296). Este itinerário apela para a caridade pastoral do sacerdote que acolhe o penitente, o ouve com atenção e mostra o rosto materno da Igreja, uma vez que aceita a sua boa intenção e seu bom propósito de colocar a vida inteira à luz do Evangelho e de praticar a caridade (cf. 306).
    4) Este caminho, não termina necessariamente nos sacramentos, mas pode orientar-se para outros modos de se integrar mais na vida da Igreja: uma maior presença na comunidade, a participação em grupos de oração ou reflexão, o compromisso em diversos serviços eclesiais , etc. (Cf. 299).
    5) Quando as circunstâncias específicas de um casal tornam isso possível, especialmente quando ambos são cristãos com uma jornada de fé, se pode propor o compromisso de viver em continência. Amoris Laetitia não ignora as dificuldades desta opção (ver nota 329) e deixa em aberto a possibilidade de acesso ao Sacramento da Reconciliação quando eles falharem nesse propósito (ver nota 364, de acordo com o ensinamento de João Paulo 11 ao Cardeal W . Baum, de 22/03/1996).
    6) Em outras circunstâncias mais complexas, e quando eles não puderem obter uma declaração de nulidade, a opção acima mencionada pode não ser viável de fato. No entanto, é também possível um caminho de discernimento. Se vier a reconhecer que, num caso particular, há limitações que diminuem a responsabilidade e culpa (cf. 301-302), particularmente quando uma pessoa considerar que cairia em uma falta subsequente prejudicial aos filhos da nova união, Amoris Laetitia abre a possibilidade de acesso aos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia (cf. notas 336 e 351). Estes, por sua vez, dispoem a pessoa a continuar a amadurecer e crescer com o poder da graça.
    7) Todavia há que se evitar entender esta possibilidade, como sendo um acesso irrestrito aos sacramentos, ou como se qualquer situação pudesse ser justificada. O que se propõe é um discernimento que distinga adequadamente cada caso. Por exemplo, um cuidado especial exige-se para  “uma nova união que vem de um recente divórcio” ou “a situação de alguém que tenha falhado repetidamente em seus compromissos familiares” (298). Além disso, quando há uma espécie de apologia ou ostentação da própria situação”, como se ela fosse parte do ideal cristão” (297). Nestes casos mais difíceis, os pastores devem acompanhar pacientemente à procura de um caminho de integração (cf. 297, 299).
    8) É sempre importante orientar as pessoas a colocar a sua consciência diante de Deus, e para isso é útil o “exame de consciência”, proposto em Amoris Laetitia 300, especialmente no que diz respeito a “como eles têm se comportado com seus filhos” ou com relação ao cônjuge abandonado. Quando houver injustiças não resolvidas, o acesso aos sacramentos é particularmente escandaloso.
    9) Pode ser conveniente que um eventual acesso aos sacramentos se realize de forma reservada, especialmente quando situações de conflito estão previstas. Mas ao mesmo tempo não há que deixar de acompanhar a comunidade para que cresça num espírito de compreensão e acolhida, sem que isso implique em criar confusão no ensinamento da Igreja sobre o matrimónio indissolúvel. A comunidade é um instrumento da misericórdia que é “imerecida, incondicional e gratuita” (297).
    10) O discernimento não se fecha, porque “é dinâmico e deve permanecer sempre aberto a novas etapas de crescimento e novas decisões que permitam realizar o ideal de maneira mais plena ” (303), segundo a “lei da gradualidade” (295) e contando com a ajuda da graça.
    Somos antes de tudo pastores. Por isso, queremos acolher estas palavras do Papa: “Convido os pastores a escutar com carinho e serenidade, com o sincero desejo de entrar no coração do drama das pessoas e compreender seu ponto de vista, para ajudá-los a viver melhor e reconhecer o seu próprio lugar na Igreja “(312).
    Com afeto em Cristo.
    Bispos da Região
    05 de setembro de 2016

* * *
O texto completo da carta original Papa Francisco em espanhol – escrito em resposta a este documento – pode ser visto a seguir:
    Carta do Papa Francisco em apoio aos critérios de aplicação do capítulo VIII da “Amoris Laetitia”
    CIDADE DO VATICANO, 05 de setembro de 2016
    Mons. Sergio Alfredo Fenoy
    Delegado da Região Pastoral Buenos Aires
    Querido irmão:

    Eu recebi a carta da Região Pastoral Buenos Aires “critérios básicos para a aplicação do capítulo VIII da Amoris Laetitia”. Muito obrigado por tê-la me enviado e felicito-os pelo trabalho que executaram: um verdadeiro exemplo de acompanhamento para os sacerdotes … e todos nós sabemos como é necessário essa proximidade do bispo com o clero e do clero com o bispo. O próximo “mais próximo” do bispo é o sacerdote e o mandamento de amar o próximo como a si mesmo começa para nós bispos,  precisamente com os nossos sacerdotes.
    A carta é muito boa e expressa plenamente o sentido do Capítulo VIII da Amoris Laetitia. Não há outras interpretações. E eu tenho certeza de que fará muito bem. Que o Senhor os recompense por esse esforço de caridade pastoral.
    E é precisamente a caridade pastoral que nos move a sair ao encontro dos alijados e uma vez encontrados, iniciar um caminho de acolhida, acompanhamento, discernimento e integração na comunidade eclesial. Sabemos que isso é trabalhoso, se trata de uma pastoral “corpo a corpo” que não se satisfaz com mediações programadas, organizacionais ou legalistas, mas necessária. Simplesmente acolher, acompanhar, discernir, integrar. Destas quatro atitudes pastorais, a menos cultivada e praticada é o discernimento; e eu considero urgente a formação no discernimento, pessoal e comunitário, em nossos seminários e presbitérios.
    Finalmente, gostaria de lembrar que Amoris Laetitia foi o fruto do trabalho e da oração de toda a Igreja, com a mediação de dois Sínodos e do Papa. Portanto, eu lhes recomendo uma catequese completa da Exortação que certamente vai ajudar no crescimento, consolidação e santidade da família.
    Mais uma vez agradeço-lhe pelo trabalho realizado e incentivo-os a seguir em frente nas diversas comunidades da diocese, com o estudo e a catequese da Amoris Laetitia.
    Por favor, não se esqueçam de rezar e rezar por mim.
    Que Jesus os abençoe e a Virgem os cuide.
    Fraternalmente
    Francisco
O que nós não sabemos com certeza é se o Papa Francisco, de fato, escreveu e assinou esta carta. Ela está sendo atribuída a ele sem uma cópia fotografada do original. É improvável, todavia, que seja falsa, pois tem um estilo que parece ser autêntico, e este será o ponto de discórdia que será levantado por aqueles que preferem não acreditar que um Papa poderia endossar e promover sacrilégio.
Nós também carecemos de uma tradução dos originais em espanhol. [a tradução acima é exclusiva para o português, fornecida pela nossa colaboradora Gercione] (Um comentário francês sobre isso também surgiu, para aqueles que podem lê-lo.) É improvável que quando obtivermos um original isso vá mudar alguma coisa, mas muitas vezes há nuances sutis e expressões idiomáticas que podem de alguma forma alterar o significado. O veredito final terá que esperar até que possamos identificar um tradutor que decifre o texto. (Infelizmente, os nossos recursos são limitados a este respeito.)
No entanto, enquanto aguardamos a confirmação final, isso parece ser exatamente o que se parece: uma confirmação direta e afirmativa do próprio papa de que ele pretende permitir que aqueles que vivem em pecado grave e objetivo possam receber os sacramentos da confissão e comunhão sem o arrependimento necessário e mudança de vida. Isso é um sacrilégio. Tomado como uma contradição dos Evangelhos, tal afirmação poderia sem dúvida ser considerada herética.
Este é um assunto muito a sério e pesado, pois se afasta do terreno da ambiguidade para o endosso, conectando Francisco ainda mais estreitamente com as censuras teológicas contra a Amoris Laetitia, às quais ele tem o dever moral de responder.

Fonte: Fraters in Unum

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