domingo, 18 de setembro de 2016

O senhor não tem aí uma missa mais barata?

Padre Patra*

Aquele cidadão suarento e apressado me procura na sacristia. “Padre, eu quero marcar uma missa”. Todos nós, cristãos católicos, sabemos que há várias intenções quando se encomenda uma missa, missa de ação de graças, missa de aniversário, missa pelos mortos e assim por diante. Por isso, perguntei: “Que missa você quer?”. Ele, tranquilamente, com toda simplicidade, respondeu: “Pode ser uma dessas corriqueiras mesmo, dessas mais baratas, de vinte minutos”.
Quase perguntei se “missa corriqueira” era daquelas celebradas de chinelo, short, boné virado pra trás e camisa do Corinthians. Mas percebi logo que não havia maldade na proposta dele. Era ma pessoa simples.
Naquela mesma igreja, tempos atrás, outro “fiel” me procura para celebrar uma missa. Foi logo acrescentando: “Quero uma dessas comerciais”. Missa comercial! Dessa vez me assustou. Aquele senhor, inconscientemente, ligava missa com comércio. Só que não é. Também não é gorjeta. É um dízimo indireto.
Para sobreviver, a Igreja pede um dízimo. Além da fundamentação bíblica, sabe-se que toda igreja tem despesa de manutenção e que a igreja é a casa de todos, de toda a família católica. Mesmo assim, o dízimo é livre. Coopera quem quiser e com quanto quiser. Um “fiel” consciente e honesto sabe fazer as devidas distinções. Ele sabe que o dízimo não vai melhorar sua vida nem lhe garantir uma cadeira cativa do outro lado. A espórtula que se dá à igreja não é pagamento. É ajuda. É cooperação. Se há padres que exageram nos pedidos não significa que todos eles sejam mercenários. Graças a Deus há padres sensatos e equilibrados. As exceções são insignificantes. De um modo geral os fiéis compreendem e perdoam. Desvios e exageros existem por toda parte.
Para muitos, o dízimo constrange. Não é nada agradável ficar falando em dinheiro nas pregações. Não há, porém, outra saída. Manter uma igreja como? Com brisa? Os gastos paroquiais e diocesanos são pesados. É uma situação que exige compreensão e boa-vontade.
Dom Walfredo Teppe, antigo bispo de Ilhéus (BA), há alguns anos, pediu permissão ao Vaticano para que fossem ordenados homens casados, de fé comprovada e comportamento irrepreensível, já com profissão bem definida e salário suficiente para manter sua família. Resolveria, em parte, o problema, além de evitar a ordenação de homens de afetividade duvidosa ou distorcida. Uma proposta corajosa e inteligente, mas jamais teria sido aprovada pelo Vaticano. Neste assunto não se pode discutir nem pensar. É tabu. Jesus só escolheu homens casados para seus primeiros apóstolos. Agora é diferente. Não estou discutindo os méritos ou deméritos da proposta de Dom Walfredo. O que vale minha opinião aqui em baixo? Nenhuma. A Cúria Romana tem lá seus interesses. E fim...
Enquanto não se encontra um caminho, vamos engolindo as suspeitas e acusações de que “os padres só querem saber de dinheiro”.
Não é uma caminhada fácil, podem crer.

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro
thprata@terra.com.br


Fonte:  http://www.jmonline.com.br/novo/?noticias,22,ARTICULISTAS,130011

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