Em tempos de internet, se percebe uma coisa muito séria no meio católico,
que é a acusação de “profanação”, “abuso litúrgico” e coisas parecidas, para
qualquer ato diferente que aconteça na Igreja. Para muitos que se tornaram
católicos há pouco tempo, qualquer gesto fora do ritual litúrgico comum
torna-se uma grave ofensa a Deus. Vamos pisar um pouco no freio, para
observarmos com atenção o que se passa do outro lado da estrada.
Sabemos que a fé cristã chegou em nossa terra no ano de 1500. Os
missionários passavam pelas aldeias, pregavam o Evangelho, mas não
permaneciam. Então, aquele povo que não tinha assistência eclesiástica
de forma regular começava a louvar a Deus com uma liturgia própria.
Surge então o que chamamos de “religiosidade popular”, ou seja, aquilo
que o povo criou em nome da religião. Essas tradições foram passadas de
geração em geração e foi o que alimentou a fé em tempos tão difíceis:
novenas, promessas, romarias, reisados, festas de padroeiro etc. Quando
um padre aparecia para dar os sacramentos, encontrava um povo fervoroso,
desejoso de Deus. Eu observo isso por onde passo. Nas comunidades onde o
povo tem uma religiosidade viva, o padre não encontra muitos obstáculos
para evangelizar. Já aquelas onde o povo não sabe cantar uma ladainha,
haja suor e lágrimas para pregar o Evangelho. Portanto, quando você
encontrar na internet pessoas cantando benditos no altar, ou fazendo
suas homenagens de forma diferente da sua, pense duas vezes antes de
digitar “sacrilégio”, “abuso”, “profanação”. Você conheceu a fé nos
tempos em que os documentos da Igreja são disponibilizados em PDF. Eles
conheceram a Deus nos tempos da lamparina e da vela acesa. Mas o que
seria então um abuso litúrgico?
É muito fácil identificar. São aqueles atos fabricados de última hora,
por leigos e clérigos mal formados. Não têm nada a ver com a história ou
a tradição de um povo. São invencionices para tornar a liturgia
mais atraente,
como dancinhas, carros alegóricos, luzes coloridas e tantas
bobagens que não ajudam em nada na evangelização. Ostensórios suspensos
no ar, estouro de champanhes, toque de berrantes, enfim. Tentativas de
chamar a atenção do público, que acabam por infantilizar
os fiéis.
Para resumir: devoção é aquilo que um povo cria para louvar a Deus.
Profanação é aquilo que alguns inventam para agradar a assembleia.
A prudência é mãe da sabedoria. Por isso, não se deixe levar pela
primeira impressão. Observe com cuidado! Aquele vídeo que apareceu na
minha linha do tempo é uma coisa antiga e mostra a devoção de um povo?
Então, louve a Deus. Se não for, aí é outra história.
Padre Gabriel Vila Verde